sábado, 3 de janeiro de 2009

Dieta Mediterranea - la dieta della salute - Parte 2

Este outro texto, publicado no New York Times e reproduzido pelo Último Segundo, fala do aumento do peso e doenças e a relação com adoção de outros hábitos alimentares não tão saudáveis. A dieta Mediterrânea está perdendo lugar para a dieta da facilidade, onde entram produtos industrializados, com muito açúcar e gordura, pobres em fibras e ricos em conservantes, corantes e etc. 


Por ELISABETH ROSENTHAL

KASTELI, Grécia – O pediatra Michalis Stagourakis está assistindo a uma transformação acontecendo em seu consultório nos últimos três anos. As reclamações de nariz entupido e dor de estômago estão agora em meio a reclamações muito mais sérias: diabetes, pressão alta e colesterol alterado. A mudança na dieta, disse o médico, produziu uma epidemia de obesidade e doenças relacionadas no Mediterrâneo.

Pequenas cidades como essa a oeste de Creta, considerada o berço da famosa dieta mediterrânea – valorizando o azeite de oliva, a produção fresca e peixes – estão agora inundadas de lojas de chocolate, pizzarias, sorveterias, máquinas de refrigerante e redes de fast-food.

O fato é que a dieta mediterrânea, associada à longevidade e baixas taxas de doenças do coração e câncer, está desaparecendo de sua terra natal. Hoje, é mais provável encontrá-la em restaurantes luxuosos de Londres ou Nova York que entre as novas gerações da Grécia, onde dois terços das crianças estão acima do peso e os efeitos negativos na saúde estão crescendo, dizem autoridades sanitárias.

“Este é um lugar onde você pode ver pessoas que vivem 100 anos, onde pessoas são magras e enfeitadas”, disse Stagourakis. “Agora, você vê crianças com expectativa de vida menor que a dos seus pais. Isso realmente assusta as pessoas.”

“Estado moribundo”

Essa preocupação tem sido reforçada pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, sigla em inglês), que publicou um relatório recentemente dizendo que a dieta da região mediterrânea “decaiu a um estado moribundo.”

“Era quase uma alimentação perfeita, mas quando olhamos para o que as pessoas estão comendo, percebemos que muito daquela dieta elogiada não existe mais”, disse o autor do relatório, Josef Schmidhuber, economista da Organização. “Ela se tornou apenas uma lembrança.”

Grécia, Itália, Espanha e Marrocos até pediram à UNESCO para designar a dieta mediterrânea como “bem intangível do patrimônio cultural da humanidade”, reconhecimento de seu valor essencial assim como de sua potencial extinção.

Os efeitos mais sérios de seu desaparecimento contínuo estão na saúde e na cintura das pessoas. Alarmados pela nova tendência, há alguns anos o governo grego visita anualmente escolas de vilas como Kasteli para pesar as crianças e dar palestras sobre nutrição. As lições incluem uma pirâmide de alimentos focada na dieta mediterrânea.

Entretanto, é uma batalha penosa. Nesta primavera, a maioria das crianças que foram testadas em suas classes do primeiro grau desta cidade silenciosa de 3 mil habitantes, também conhecida com Kissamos, tinham colesterol alto. “Esse era o assunto da escola”, disse Stella Kazazakou, 44, mãe de Theodore, 9. “Ao invés de comparar as notas, as mães estavam comparando os níveis de colesterol.”

Na Grécia, três quartos da população adulta estão acima do peso ou obesas, “de longe” a pior taxa da Europa segundo as Nações Unidas. O índice de sobrepeso dos garotos de 12 anos cresceu mais de 200% entre 1982 e 2002 e cresce mais rápido desde então.

A Itália e Espanha são um dos primeiros em obesidade, com as taxas entre os adultos acima dos 50%, em comparação com 45% na França e na Holanda, por exemplo.

Nos Estados Unidos, 66% dos adultos de 20 anos ou mais estavam acima do peso em 2004, e 31,9% das crianças entre 2 e 19 estava acima do peso em 2006, apesar das estatísticas infantis serem difíceis de comparar pois são recolhidas de maneira distintas nos diferentes países.

Na Grécia, o aumento no número de crianças gordas tem sido impressionante, dizem pais e médicos.

“A dieta deles é completamente diferente do que era a nossa”, disse Soula Sfakianakis, 40, relembrando o café da manhã com leite de cabra, pão e mel. Seu filho, Vassilis, um enérgico menino de 9 anos com um bigode de chocolate deixado por um recente cone de sorvete, disse que prefere cereais no café da manhã e bife ou macarrão no jantar.

Crianças obesas

A médica Antonia Trichopoulou, professora de epidemiologia na Escola de Medicina da Universidade de Atenas, disse que o problema cresceu mais acentuado com o crescimento dos supermercados e, especialmente, comidas convenientes.

“Nos últimos cinco anos essa situação ficou realmente ruim”, disse ela. “As crianças estão todas muito pesadas. O mercado está pressionando muito, e os pais e as escolas parecem incapazes de resistir.”

As propagandas direcionadas às crianças invadiram a Grécia com força total, expandindo em direção ao interior. Na televisão há comerciais para salgadinhos; nos supermercados há prateleiras de doces. No último ano, a Coca-Cola patrocinou um evento sobre alimentação saudável.

A tradicional dieta, pobre em gordura saturada e rica em nutrientes, era baseada em vegetais, frutas, grãos não refinados, azeite de oliva e um pouco de vinho – tudo consumido em doses diárias.

Peixes, nozes, aves, ovos, queijos e doces eram pouco consumidos. Carne vermelha, açúcar refinado ou farinha, manteiga e outros óleos ou gorduras eram raramente consumidos, se consumidos.

Pesquisas sobre alimentação começaram na década de 1990 quando os cientistas notaram que as pessoas nos países mediterrâneos vivam mais e apresentavam menos casos de doenças graves apesar de terem uma atração por hábitos pouco saudáveis como fumar e beber. Mas essa proteção parece que está rapidamente desaparecendo.

Há uma geração, a típica dieta mediterrânea reunia as recomendações nutricionais da Organização Mundial da Saúde que aconselham que menos de 10% das calorias devem vir de gorduras saturadas e menos de 300 miligramas de colesterol devem ser consumidos por dia.

Hoje, a dieta típica em todos os países excede significativamente esses limites, disse Schmidhuber. Na Grécia, a média de consumo diário de colesterol aumentou 400 miligramas dos 190 em 1963. Na Alemanha, aconteceu algo similar. Em Portugal, onde o salto foi maior, o consumo passou de 155 para 460 miligramas.

Em 2002, um estudo britânico apontou que entre 31% e 34% das crianças na Grécia estavam acima do peso – um crescimento de 212% desde 1982 – e “a situação piorou e muito desde então”, disse Stagourakis. Um quarto das crianças em Creta tem problemas de colesterol, segundo ele, e está cada vez menos incomum para o pediatra atender crianças com diabetes e pressão alta.